Atletas da elite revelam histórias emocionantes com seus pais

A maioria dos surfistas brasileiros que está no topo do ranking da World Surf League – WSL começou a praticar o esporte ainda criança, levada ou incentivada por seus pais. Os atletas dizem que suas vitórias não teriam acontecido se não fossem eles, que os ensinaram a enfrentar a vida, a vencer os desafios e, inclusive, aprender a perder. Cada um à sua maneira procura homenagear aquele a quem tanto admira e que esteve presente tanto nos bons quanto nos maus momentos.  Gabriel Medina, Filipe Toledo, Adriano de Souza, Lucas Chumbo, Lucas Vicente, Yago Dora e Phil Rajzman são alguns dos melhores surfistas do mundo que reconhecem seus pais como figuras protagonistas por trás do sucesso no esporte.

“Um parceiro para todas as horas e que eu confio de olhos fechados”, diz Gabriel Medina, 26 anos, sobre o padrasto Charles Saldanha, 48 anos, que também é seu técnico e considerado como um pai. “Ele é muito importante na minha vida. Me conhece como ninguém e sabe o que fazer para me motivar, me manter focado e determinado nos treinos. Quando ele me diz algo, sei que é porque quer o meu melhor. A gente tem uma relação de muito respeito”, afirma o bicampeão mundial (2014 e 2018), atualmente em segundo lugar no ranking da WSL.

Para as comemorações do Dia dos Pais, Medina conta que provavelmente vai ter um almoço especial em casa com o padrasto e a família, além de algo criativo que ele e os irmãos farão para homenageá-lo. “E se tiver onda, vamos acabar surfando em família também”.

Com relação ao pai biológico, Claudio Ferreira, Medina diz que teve muita influência na sua paixão por futebol, porque ele jogava. “A gente sempre esteve também em contato com a bola. Eu escolhi o surfe, mas ainda gosto muito de jogar bola e acompanhar os campeonatos na TV. Ter dois pais é legal, pois tenho carinho em dobro”, completa o atleta. 

Adriano de Souza, o Mineirinho, 33 anos, considera que uma das coisas mais importantes que o pai, Jonas, 65 anos, lhe ensinou foi a lutar pelo que deseja. Seu pai veio do sertão do Rio Grande do Norte para morar no Guarujá/SP e trabalhar no Porto de Santos/SP. “Ele chegou com uma mão na frente e outra atrás. Admiro muito sua vida de luta”, conta o campeão mundial da WSL em 2015.

Mineirinho diz que herdou de seu pai essa virtude de batalhar pelo que quer e aplicou isso no surfe. Ele revela que seu irmão, Ângelo, 12 anos mais velho, representa tudo para ele no que diz respeito à sua paixão pelo esporte. “Meu irmão que me incentivou e me puxou na primeira onda. O considero essa figura de pai, que me representa tanto no surfe como na vida. Já o meu pai sempre foi para o lado do futebol e gosto muito de assistir uma partida com ele, entre Santos e Corinthians, por exemplo”. Ali, o pai é santista e o filho corintiano. No Dia dos Pais, Mineirinho estará nos Estados Unidos, mas garante que pelo menos um bom telefonema ao seu pai vai acontecer.

Quem também estará viajando na data e longe de seu pai é Lucas Vicente, 17 anos, campeão mundial na categoria Pro Júnior da WSL. “Com três anos de idade comecei a surfar por causa do meu pai, que hoje é meu técnico e melhor amigo. O que de mais valioso ele me ensinou foi ser uma pessoa do bem”, conta, feliz, o filho de João Carlos Alexandre, 56 anos, ex-surfista. Lucas afirma que sua mãe brinca com o fato de achá-lo parecido fisicamente com ela, mas com a personalidade do pai. “Acho isso muito bom, pois tenho orgulho dele”, diz.

Para Lucas Chianca “Chumbo”, 24 anos, seu pai, Gustavo Chianca “Chumbão”, 49 anos, é um grande ídolo, que ensinou tudo para ele e seu irmão, João “Chumbinho”. “Desde os três anos, ele nos colocava boias nos braços e na prancha. Foi ele quem transformou dois meros garotos em atletas que hoje estão entre os melhores surfistas do mundo. Também nos ensinou a respeitar o próximo e ser honesto. Tivemos uma educação incrível”, diz o atleta que tem como “quintal” a praia de Saquarema/RJ, palco da etapa brasileira do Championship Tour, Oi Rio Pro.

Considerado um dos melhores atletas de ondas gigantes do mundo, Chumbo conta que herdou de seu pai a paixão por adrenalina. “Meu pai é trabalhador, comerciante, mas no tempo vago pratica esportes radicais, salta de paraquedas, pilota moto na areia e pega onda grande com a gente”, diz o vencedor do Nazaré Tow Surfing Challenge 2020 (Portugal), na categoria Melhor Dupla. A comemoração do Dia dos Pais será um churrasco em família.

Já Yago Dora, 24 anos, surfista do Championship Tour da WSL e especialista de aéreo, confessa que seu pai, Leandro Dora, 49 anos, também seu treinador, é exigente sim: “Ele gosta de me ver andando na linha e trabalhando duro pelos meus objetivos”. Nascido em Curitiba/PR, mas vivendo em Florianópolis/SC, Dora brilhou ainda mais ao vencer o campeonato Vans Us Open, em Huntington Beach, Califórnia, no ano passado. “Basicamente tudo que sei de surfe foi meu pai que me ensinou, não só sobre técnica em cima da prancha, mas tudo que envolve o esporte: da conexão com a natureza até a entrada no mar para passar a arrebentação”. E a comemoração: um jantar em família.

Comemoração em dobro

Quem tem pai e filhos comemora duas vezes, como Filipe Toledo, 25 anos. Seu pai Ricardo Toledo, 52 anos, é ex-surfista e tem influência direta na sua trajetória. A família mora na Califórnia. “A relação com meu pai é tranquila, sempre fomos amigos. Ele é moleque, gosta de brincar e tirar onda. Bom tê-lo por perto e agradeço por tudo que fez e faz por nós”, diz o quarto colocado no ranking mundial.

E como pai da pequena Mahina e de Koa, Filipinho dá conta do recado. “Amo ser pai, sempre foi meu sonho. Gosto de fazer tarefas como trocar fraldas, colocar para dormir, dar banho”, diz. Afirma que seria ótimo ver os filhos seguindo seus passos no surfe, porém, “sem pressão nenhuma, vou deixar escolherem o que tiverem vontade e os apoiarei. Mas a prancha estará sempre ao lado como uma opção”. Na comemoração, um churrasco em casa com todos da família.

Outro surfista que tem motivos em dobro para comemorar a data é Phil Rajzman, 38 anos, filho de Bernard Rajzman, 63 anos, ex-jogador profissional de vôlei, e pai de Rafaela, de 13 anos, e Coral, de cinco meses. Colecionador de títulos no longboard, entre eles, o de bicampeão Mundial (2007/2016), Rajzman, da mesma forma que Chumbo e Vicente, começou a surfar aos três anos de idade, de boia nos braços e agarrado no pescoço do pai, na praia do Pepino, em São Conrado/RJ. “Foi quando começou meu amor pelo mar e pelo surfe”, diz o também bicampeão Pan-Americano (2007/2009), campeão Sul-Americano (2017) e campeão Brasileiro (2012).

“Eu sempre gostei e tive habilidade com esportes, até pela genética, e o surfe tem uma coisa a mais que é o contato com a natureza. Pela influência de meu pai e pela escolinha de surfe que participei aos sete anos, do Rico, um dos grandes ícones do surfe brasileiro, foi que comecei nas competições”, afirma. Phil conta que o avô morreu quando o pai tinha apenas 13 anos de idade. “Talvez essa falta fez com que a vida inteira tivéssemos uma relação de amizade”. O surfista diz que, quando criança, seu pai nunca o deixou ganhar quando jogavam ping-pong, vôlei e outros jogos. “Isso foi positivo porque, no esporte, ninguém ganha na moleza, é importante aprender a perder, faz parte da vida. Meu pai me ensinou desde cedo a ganhar por méritos e a valorizar o esporte com honra mesmo quando não vencia”.

O supercampeão de longboard conta que seu lado de pai também rende boas histórias. “Assim que a Rafa nasceu chorava muito, mas quando a pegava no colo parava de chorar na hora. Sempre tivemos uma conexão muito forte. Eu tinha 23 anos e cuidava dela sozinho. Quando a mãe a deixava comigo, trocava fraldas, lidava com as cólicas, dava de mamar. Tudo isso ajudou na relação aberta que temos hoje”. Juntos, pai e filha pegam onda e Rafaela, bastante esportista, também pratica vôlei, ginástica olímpica, futebol e natação. “Eu educo a Rafa e vou educar a Coral para que sejam independentes”. Sobre a caçula, Rajzman diz que divide os afazeres com a esposa Julli, com quem está há dez anos, o casal reside em Búzios/RJ. “Até nesse momento difícil que vivemos, da pandemia, uma coisa positiva é que estou podendo conviver 100% com a minha filha. Se não fosse isso, estaria competindo, viajando pelo mundo. Eu tanto ensino como aprendo com elas”.


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