Entrevista Exclusiva: Italo Ferreira focado no título mundial
No mar, competindo ou treinando, ele é ousado… atirado… abusado…
Ou como se diz por aí… pilhado.
Não o conhecia pessoalmente, mas já sabia que fora dele, Ítalo Ferreira é bem mais calmo.
Tranquilidade que combina muito bem com seu jeito autêntico.
Nos conhecemos numa passagem dele por São Paulo.
Os compromissos profissionais longe das ondas são cada vez mais frequentes.
Uma novidade não muito agradável, mas absolutamente necessária para um dos principais ícones do surfe na atualidade. Hoje em dia é preciso estar perto de todos os detalhes.
Aos 25 anos, o potiguar de Baía Formosa lidera o circuito mundial e tem ótimas chances de se tornar o 3º brasileiro campeão mundial da WSL.
Foram 4 finais e 2 títulos em 2019.
No começo de dezembro acontece a última etapa do ano, o tradicionalíssimo Pipe Masters.
Gabriel Medina e Filipe Toledo seguem na briga.
O sul-africano Jordy Smith e o americano Kolohe Andino são os únicos que podem tirar o troféu do Brasil.
A poucos dias da decisão, Ítalo está 100% focado no trabalho.
Treinos físicos e mentais.
E muito surfe.
Fazer o que tem feito desde o começo do ano.
Sem segredos e com os pés longe do chão só mesmo na hora dos aéreos.
É assim que Ítalo acredita que poderá realizar o sonho daquele menino que começou a surfar nas tampas de isopor no Rio Grande do Norte.
5 conquistas na divisão de elite na carreira.

Depois da adrenalina com a excelente atuação na perna europeia (vice na França e campeão em Portugal), como controlar a ansiedade para a viagem para o Havaí com a possibilidade de conquistar o título mundial?
Consegui fazer o impossível, o que poucas pessoas acreditavam. Lá dentro eu tinha aquela fé, aquela força e a vontade de mostrar o meu melhor. Sair da Europa liderando o circuito – com alguns outros caras que podem dar muito trabalho lá em Pipe – é uma situação incrível, muito importante pra mim. Oportunidade gigantesca de conseguir alcançar meu objetivo, mas sei que ainda falta muito ainda a ser trabalhado para que tudo seja perfeito no final. Tem que aproveitar o momento, não pensar muito… apenas continuar vivendo o que eu já vivo. Treinos, ir pro médico, passear com a família e surfar. Essa está sendo minha vida pra tirar um pouco da pressão, pra sair um pouco daquela bolha. E aí, quando chegar no Havaí o modo competição é ativado e só Deus sabe o que ele tem pra mim.
São 4 finais até aqui em 2019, além da vitória no Isa Games. Um ano em que você passou por tudo: conquistas, sustos, bons e maus resultados. Foi sua temporada mais incrível no circuito?
Sem dúvida… e pode ser que termina com chave de ouro. É por isso que estou trabalhando e fazendo o meu melhor. Numa visão geral, realmente foi incrível. No início do ano venci o campeonato de aéreo e em seguida o campeonato na Gold Coast (Quiksilver Pro), com um mesmo aéreo na última onda. Bells fiz um bom resultado… passei por aquela situação toda (levou um enorme caldo e foi arrastado por vários metros durante as quartas de final). Depois, fui pra Margaret e fiz bom resultado. Keramas machuquei meu tornozelo e não consegui me apresentar da melhor maneira. Aí teve os outros… Tahiti, que eu apanhei do Mineiro (Adriano de Souza) e que me machucou bastante, numa bateria muito disputada que fiz o meu melhor… bom resultado em Jeffreys Bay (2º lugar)… piscina fui mal, poderia ter ido muito bem mas tava muito ansioso, querendo fazer muito e acabei não “fazendo nada” e terminei em 9º. Aí fui pra Europa com apenas um tiro e foi que foi, fiz duas finais, venci uma e segundo na outra, e fiquei com chances reais. Ano passado ganhei três eventos e não tava na briga e aquilo me deixou chateado. Aconteceu muita coisa também no ano passado, não estava tão amarradão. Claro, a vitória em Bells Beach (foi o 1º título dele na WSL) foi incrível, mas aí teve uns campeonatos que eu não tava muito feliz e tava um pouco difícil. Esse ano consegui achar o equilíbrio de verdade, mais constante, venci dois eventos e tenho grandes chances.
Chegar no Havaí com a camisa amarela aumenta a pressão? Ainda mais tendo que enfrentar em Pipeline, um ‘wild card’ no 3º round, que pode ser um cara ser nada a perder?
É… Havaí é difícil, dependendo da ondulação e do tamanho que vai estar. É sempre um desafio, na verdade. Tem os caras que são favoritos naquela onda e tudo pode acontecer. Eu estou muito determinado, tenho feito muitas coisas de análises e treinos… mental também. As coisas estão encaminhando e espero que quando eu entre na água só me preocupo em surfar. Fazer o meu melhor e não me preocupar com o adversário, porque quando você foca no adversário as coisas não acontecem. Entrar lá, pegar as melhores ondas e ponto, passar uma por uma.

O plano é chegar lá e ficar todos os dias antes do campeonato treinando em Pipe?
É. Difícil até, pelo fato de ter atletas disputando o WQS e quando rola onda em Pipe, tá todo mundo lá. Não só eles, mas os locais, então é muito difícil de treinar. Mas qualquer tempo naquele lugar vai fazer a diferença. Eu tinha planejado uma outra coisa, mas mudei tudo eu falei “não, vou ter que ir, vou ter que ficar lá e viver aquilo, sentir tudo”. Tomar vaca, tomar bronca dos locais, disputar com os caras e quando chegar nas baterias estar pronto pra qualquer coisa.
por @thiago_blum